quarta-feira, 20 de março de 2013

SUGESTÃO DE LEITURA - Reflexão sobre o dia 21 de março



Nelson Inocencio
O Brasil chega a mais um 21 de março, Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, com uma sociedade ainda aprendiz no que tange aos direitos humanos fundamentais (individuais e coletivos) e sobre o real significado do termo democracia. Diante desse contexto, Nelson Inocencio, professor do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) levanta uma importante questão sobre como a arte e a cultura podem contribuir para a luta contra a discriminação racial. 

Confira o texto 


Artistas e intelectuais precisam se comprometer com a superação do racismo

No meu entendimento há uma necessidade emergencial de que artistas e intelectuais comprometidos com a superação do racismo, sejam pessoas negras ou brancas, se articulem no sentido de adensarem a massa crítica em torno das utilizações abusivas que a indústria cultural e a sociedade de consumo fazem das artes e culturas negras. Romper com um permanente processo de espetacularização e canibalização dos quais as manifestações afro-brasileiras são alvo, é fundamental. Desse modo rompe-se também com a desgastada estratégia das elites econômicas, políticas e culturais do país, que habitualmente se apropriam das artes e culturas negras como pretexto para reiterarem o moribundo mito da democracia racial.

No contexto contemporâneo, diante das primeiras ações afirmativas proporcionadas pelo Estado Brasileiro com foco específico na população negra, as identidades raciais adquirem novos contornos. A ocasião é propícia para a valorização das artes e culturas negras, o que implica em enfatizar as contribuições de seus protagonistas, ou seja, tal reconhecimento não pode prescindir de uma representação justa dos indivíduos negros que dão forma e conteúdo às linguagens artísticas e às culturas de que falamos. A canibalização desse universo negro permitiu que situações estranhas fossem notadas, a exemplo de grupos que lidam com as artes e culturas negras, mas não se abalam com a sub-representação, ou mesmo inexistência de pessoas negras em seus espaços.

Superar a ideologia do branqueamento também é compromisso de ativistas e intelectuais orgânicos que entendam as razões que nos impelem na formação de uma contra-hegemonia, partilhada por pessoas negras e não-negras. Do meu ponto de vista é preciso, sobretudo, produzir conhecimento sobre este complexo mundo das artes e culturas de matrizes africanas, como antídoto para determinadas práticas culturais que historicamente negaram ao povo negro seu próprio protagonismo.

Nelson Inocencio, Professor do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB) e Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab

Texto publicado no site Fundação Palmares

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