Nelson Inocencio |
O Brasil chega a mais
um 21 de março, Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação
Racial, com uma sociedade ainda aprendiz no que tange aos direitos
humanos fundamentais (individuais e coletivos) e sobre o real
significado do termo democracia. Diante desse contexto, Nelson
Inocencio, professor do Instituto de Artes da Universidade de
Brasília (UnB) e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros
(Neab) levanta uma importante questão sobre como a arte e a cultura
podem contribuir para a luta contra a discriminação racial.
Confira o texto
Artistas e intelectuais precisam se comprometer com a superação do racismo
No meu entendimento há
uma necessidade emergencial de que artistas e intelectuais
comprometidos com a superação do racismo, sejam pessoas negras ou
brancas, se articulem no sentido de adensarem a massa crítica em
torno das utilizações abusivas que a indústria cultural e a
sociedade de consumo fazem das artes e culturas negras. Romper com um
permanente processo de espetacularização e canibalização dos
quais as manifestações afro-brasileiras são alvo, é fundamental.
Desse modo rompe-se também com a desgastada estratégia das elites
econômicas, políticas e culturais do país, que habitualmente se
apropriam das artes e culturas negras como pretexto para reiterarem o
moribundo mito da democracia racial.
No contexto
contemporâneo, diante das primeiras ações afirmativas
proporcionadas pelo Estado Brasileiro com foco específico na
população negra, as identidades raciais adquirem novos contornos. A
ocasião é propícia para a valorização das artes e culturas
negras, o que implica em enfatizar as contribuições de seus
protagonistas, ou seja, tal reconhecimento não pode prescindir de
uma representação justa dos indivíduos negros que dão forma e
conteúdo às linguagens artísticas e às culturas de que falamos. A
canibalização desse universo negro permitiu que situações
estranhas fossem notadas, a exemplo de grupos que lidam com as artes
e culturas negras, mas não se abalam com a sub-representação, ou
mesmo inexistência de pessoas negras em seus espaços.
Superar a ideologia do
branqueamento também é compromisso de ativistas e intelectuais
orgânicos que entendam as razões que nos impelem na formação de
uma contra-hegemonia, partilhada por pessoas negras e não-negras. Do
meu ponto de vista é preciso, sobretudo, produzir conhecimento sobre
este complexo mundo das artes e culturas de matrizes africanas, como
antídoto para determinadas práticas culturais que historicamente
negaram ao povo negro seu próprio protagonismo.
Nelson Inocencio,
Professor do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB) e
Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab
Texto publicado no site
Fundação Palmares
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